Do jardim da casa da minha avó, na Costa do Castelo, a vista era deslumbrante.
Curiosamente, essa casa foi vendida, após o seu falecimento, a um preço relativamente baixo para a casa que era. Ninguém pegava nela, o preço foi baixando e acabou por ser um casal de holandeses que a comprou. Os primeiros compradores que não colocaram objecções a que uma casa de sala gigante com vista para Lisboa, com terraços e jardins que vão encostar à muralha do Castelo, não tivesse garagem.
Mas não era sobre isto que eu queria escrever.
Queria contar que do jardim da minha avó via-se toda a cidade e ouvia-se ininterruptamente buzinas e mais buzinas ao longe.
É realmente impressionante: milhares e milhares de automobilistas a chamar a atenção para o amigo que vai no passeio; a avisar o carro da frente que semáforo está verde e que eles não têm tempo a perder; ou pura e simplesmente a agredir o peão ou o ciclista que não lhes deu humildemente passagem, com os 110 decibéis da buzina (é sabido que acima dos 85 decibéis há danos irreversíveis no aparelho auditivo); causam uma "nuvem" de poluição sonora em Lisboa, que é quase sempre menosprezada, mas que tem efeitos tão ou mais graves na saúde e na qualidade de vida como a poluição atmosférica ou o não cumprimento das rigorosas regras de higiene alimentar que a ASAE impôs aos restaurantes e tabernas da nossa cidade.