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24 setembro 2014

Ambiente, para que te quero?

Sob o manto da implantação de uma Academia da Fundação Aga Kahn, a Câmara de Cascais pretendia aumentar a área urbanizada, à custa de áreas REN, RAN e solo de alto valor agrícola. A intenção foi travada face à contestação, que se materializou numa petição contra essa intensidade de urbanização (e aumento de redes viárias) pretendida a reboque de um projecto tão nobre. No entanto, há ainda vozes que dizem que o ambiente [neste caso o ordenamento do território e a necessidade de zonas com baixa densidade de construção e permeável] é um entrave ao desenvolvimento. 
O entrave é quando não existe planeamento a médio e longo prazo e se cai no populismo de obra feita rapidamente, sem atender ao que a natureza vem depois reclamar como seu. Não são sarjetas mal limpas a causa de inundações em Lisboa como se registou no dia 22 de setembro passado, ou das cheias que ocorreram há anos na Madeira. São obras de impermeabilização interminável, sem incluir medidas de retenção das águas.
Uma cidade não pode ser só estrada e edifícios.  
Uma cidade desenvolvida e madura tem que permitir construção, mas também zonas permeáveis, garantindo uma resposta adequada a eventos climáticos extremos, como chuvadas intensas num curto período de tempo (com tendência a intensificar, face aos cenários previstos pelas alterações climáticas).
A permeabilidade de zonas na cidade passam pela sua humanização, incluindo a promoção dos transportes mais suaves em detrimento do automóvel, mas também promovendo os espaços verdes.
Quando recebemos queixas de pessoas que pedem para substituir o espaço verde em frente a sua casa por lages de pedra, para que o lixo que as pessoas deitam pelas janelas seja facilmente lavado com água, ou quando nos pedem para cortar árvores só porque sim, porque já há muitas na freguesia e não são precisas tantas, sabemos que há um longo caminho a percorrer.
Mesmo assim, o preocupante é quando um ex-autarca de Lisboa atribui a culpa das inundações de dia 22 de setembro à falta de limpeza de sarjetas. É fácil apontar o dedo. O difícil é ter a ousadia de promover as transformações positivas que a cidade de Lisboa tem recebido nos últimos anos. Haja coragem política e visão do seu Presidente da Câmara e da sua equipa. 
O paradigma alterou-se e há quem continue a resistir. Mas o futuro tem que forçosamente de mudar, mesmo podendo não ser populista, mas pelo bem-estar a longo prazo de todos. Se não for por nós, a mudança será feita pela força da água, que leva tudo atrás.   

Leituras recomendadas:

21 setembro 2014

The "Public" Lisbon

Mais um ano e mais uma Semana Europeia da Mobilidade cheia de iniciativas.
Ficam fotos do Lisboa Ciclável que este ano, com um enquadramento diferente, demonstra o enorme potencial do espaço público lisboeta. 
Muito trabalho há ainda a fazer, mas é visível a determinação técnica e política na valorização do espaço humanizado, à escala do peão e do utilizador da bicicleta. Assim se fazem votos para que nestes passos se continue a pensar na Lisboa dos encontros e estadia, no desenho urbano que privilegie a mobilidade sustentável e a riqueza da mistura dos usos do solo.








Não é por acaso que surgem candidaturas tão distintivas como a Lisbon Velo-City 2017, cujo mote muito contribui para a continuidade das politicas públicas até então traçadas:
Increasing the bicycle network from 10km to 60km in 6 years, renovating public space in the downtown area, with less cars and slowing down traffic, building 5 new bicycle bridges and a greenway network; this was only possible because of strong public commitment. 
Assim continue a determinação e o trabalho para cumprirmos a aspiração de uma Lisboa de Bairros (Uma Praça em cada Bairro) e de uma Lisboa comunitariamente inclusiva.