Tenho acompanhado a polémica dos
tuk-tuks (a moto-furgoneta para turistas na foto) em Lisboa com um
sorriso no canto da boca. O debate chegou à Assembleia Municipal, que avançou
com várias propostas para o executivo da CML. Pedem-se regulamentos,
fixação de horários, de percursos e de um limite máximo para o número
deles, e até que os restantes lisboetas paguem (vulgo "incentivos
fiscais") para que passem a ser eléctricos.
Quais são afinal as queixas? Poluição
sonora, poluição atmosférica, estacionamento caótico, congestionamento,
destruição de calçadas, atentado à privacidade nos bairros históricos; todas queixas válidas, nenhuma delas exclusiva aos tuk-tuks. O
enorme número de automóveis na cidade de Lisboa causa isto tudo e mais.
Ajudado por muitas das motas na poluição sonora, o automóvel consegue
um impacto bem mais forte (a destruição das calçadas é o exemplo mais
ridículo, basta olhar para a foto para perceber a diferença), só que...
esses já cá estavam. E são quem manda na cidade.
As soluções que são propostas pela AML espelham bem isto. Repare-se que aplicar as leis já existentes seria suficiente para reduzir estes impactos negativos,
disciplinar os tuk-tuks e conter a sua proliferação. Se um tuk-tuk for
efectivamente proibido de estacionar ilegalmente, dificilmente poderá a
continuar a funcionar como funciona hoje. Mas aplicar as leis já
existentes (ruído, estacionamento, restrições ao trânsito) também seria
chato para... (sim adivinharam) para o automóvel. Os novos regulamentos
são uma maneira de contornar isso, tratando como diferentes, incómodos
que são bem semelhantes.
Toda esta discussão é semelhante à
aversão à bicicleta. Apesar de causar menos congestionamento, e de os
seus desrespeitos à lei serem em menor
número e com uma gravidade incomparavelmente menor, são essas as duas
maiores queixas que se ouve por aí. O problema não é o congestionamento,
ou os vermelhos passados - isso são apenas desculpas - o problema é que
a cidade pertence aos carros na cabeça de muita gente, e os outros só
vieram chatear.