A iniciativa de abate de veículos surgiu por razões ambientais: pagar para que as pessoas trocassem o veículo velho por outro novo. Se a pessoa quisesse passar a usar os transportes públicos, a bicicleta ou ir a pé, comportamento bem mais interessante do que ter um novo carro, não tinha qualquer benefício.
A defesa de tal iniciativa prendia-se com o facto de os carros mais recentes serem dotados de tecnologias que permitiriam redução de emissões e de consumo de combustível.
Mas afinal, faltava considerar um factor (muito) relevante: as tecnologias não têm evoluído assim tanto para a sustentabilidade; apenas as que mascaram as emissões reais e a facilidade na manipulação de testes. O escândalo da VW veio evidenciar que eram "apenas" 11 milhões de veículos do grupo VW em todo o mundo. Mas o estudo "Mind the Gap", da autoria da European Federation for Transport and Environment, entidade que trabalha com a Comissão Europeia, divulgou ontem que a VW é apenas a ponta do iceberg, e que a Mercedes, BMW e Peugeot também distorcem dados. A diferença entre os resultados dos testes anti-emissões de dióxido de carbono de automóveis e o desempenho real passou de 8% em 2001 para 40% em 2014.
Este embate vem desacreditar por completo toda a indústria automóvel que insiste em não querer caminhar para a sustentabilidade, com prejuízos para o ambiente e para a saúde pública.
Esta semana soube-se também que as acções do Grupo VW (que engloba as marcas Volkswagen, Audi, Skoda, Seat e Porsche) vão ser retiradas dos índices de empresas sustentáveis do Dow Jones já a partir de 5 de Outubro.
Talvez isto seja a oportunidade para acelerar a conversão para veículos eléctricos e uma aposta franca na mobilidade suave.
De qualquer das formas, nos próximos meses vou ensinar os meus filhos a andar de bicicleta sem rodas, para podermos deixar mais vezes o carro em casa e ir juntos até à escola de bicicleta.