A minha professora de yoga procura um espaço para dar aulas na zona da Baixa, Cais do Sodré, etc.
Apesar de ser uma zona da cidade com inúmeros espaços desocupados e ela ter um projecto válido, que oferece garantias, a tarefa tem sido extremamente difícil.
Espaços amplos, devolutos, alguns mesmo com painéis de azulejos e/ou frescos notáveis, não estão disponíveis para arrendamento.
A conversa é sempre a mesma: o proprietário parece não estar necessitado de dinheiro e prefere aguardar por qualquer coisa no futuro... afinal, o centro da cidade parece valorizar-se e sempre pode aparecer alguma ideia brilhante para o local... Ou sua, ou dos filhos ou de alguém que lhe queira comprar o prédio pelos valores milionários dos grandes negócios da Baixa.
O prejuízo coletivo devido a este cálculo particular sobre perspetivas de valorização, é difícil de quantificar, mas será qualquer coisa parecida com o incêndio do Chiado, mas multiplicado por todo aquele espaço devoluto (que é bem maior do que ardeu em 88) e por todas as décadas pelas quais este problema se arrasta.
É gigantesco e equivale a muitas tragédias juntas, com o "problema" de não ter o dramatismo de um incêndio ou de um tsunami, que talvez ajudasse a despertar a consciência dos cidadãos.
É gigantesco e prolonga-se no tempo porque temos elites (políticas e não só...) que para além de parecer não saberem fazer contas quando se trata do Bem Comum, sobretudo, consideram que o direito à propriedade é qualquer coisa de sacrossanto, ou é uma espécie de "principio básico", ou lei imutável, com que a cidade é obrigada a conviver.
Não pode ser assim.
No mínimo, para já, é preciso dizer: Com o direito à propriedade de um prédio na nossa Cidade - ainda para mais nas zonas mais nobres e emblemáticas - tem de vir acupulado o dever de não ter esse espaço devoluto, muitas vezes a degradar-se e a servir de abrigo a baratas e ratazanas.
Como forma de ressarssir os prejuizos inerentes aos devolutos e incentivar a colocação destes imóveis de volta à vida da Cidade, é necessário cobrar efectivamente impostos agravados sobre a propriedade devoluta.
É também importante alterar a Lei das expropriações, simplificando e agilizando procedimentos, bem como, em ultima análise, no estado em que continuam vastas àreas do centro da cidade, encarar a ocupação e revitalização de edifícios devolutos - nomeadamente usando-os para a habitação - como um serviço público à Cidade.