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03 junho 2013

O cancro dos 'Shoppings'


 É inspirador o facto de que esta vaga de protestos na Turquia, contra a deriva autoritária do Governo de Ankara, se tenha iniciado com uma manifestação de protesto contra a construção de um centro comercial.

Infelizmente, a construção e abertura de centros comerciais nas cidades, que tanto contribui para a sua morte e desumanização, talvez por não ter aquele efeito dramático e imediato, que jornalistas e bloggers tanto apreciam, talvez por não dar uma boa foto, costumam ser relativamente tolerados no nosso país, sem "alertas" nas redes sociais ou na comunicação social.

Em Portugal, a quota de mercado do chamado "comércio tradicional" ou "de rua", caiu nos últimos 20 anos para uns míseros 15%. Enquanto isso, a área de metros quadrados de shopping per capita é das mais elevadas da Europa.

 As pessoas que este fim-de-semana almoçaram, passaram a tarde e jantaram neste Shopping delicodoce, foram objectivamente retiradas das ruas, praças e jardins da cidade através de más políticas urbanas.

A abertura de centros comerciais, regra geral, "seca" todo o comércio tradicional em volta. Ou o comerciante se sujeita a deslocar para o Centro Comercial ou pode estar condenado ao desaparecimento. 

Nos centros comerciais as lojas estão todas juntas, há sempre lugar para estacionar, o ambiente é metodicamente climatizado, a luz é a ideal, a musiquinha é suave, não há gente a pedir e há videovigilância e funcionários da segurança por toda a parte.

No Freeport de Alcochete é proibido "tocar ou cantar qualquer tipo de música" e os visitantes "devem estar devidamente vestidos". Mas em troca desta "cidade delicodoce", que atrai muitos clientes para o passeio de fim-de-semana ou final de tarde, são exigidas rendas de milhares de euros. Quem sobrevive? Não o pequeno comércio familiar, mas sim as grandes multinacionais e franchisings, capazes de esmagar custos operacionais, nomeadamente de pessoal.

Por outro lado, uma cidade sem "comércio tradicional" é uma cidade que morre. As pessoas deixam de andar pelas ruas, as ruas tornam-se desertas, mais inseguras menos aprazíveis.

É como que um ciclo vicioso, que transforma o rosto da cidade, que afasta o cidadão da vida pública e que o converte cada vez mais em mero consumidor que deambula pelos grandes espaços privados de uso colectivo que são os ‘Shoppings'.


 Ninguém saberá ao certo calcular os prejuízos que o centro comercial Colombo, inaugurado por João Soares, terá causado à cidade e em particular aos bairros de Benfica.

1 comentário:

  1. E entretanto, na Av. Guerra Junqueiro:
    http://www.avguerrajunqueiro.com/

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