O
 nome
de Óscar Niemeyer, recentemente desaparecido, é universalmente 
reconhecido como figura incontornável da arquitectura moderna.
Esse reconhecimento deve-se sobretudo às obras projectadas para a cidade
 de Brasília no final da década de 1950. Brasília,
por sua vez, pode ser considerada como o mais amplo e completo exemplo 
concretizado dos princípios funcionalistas do urbanismo e da
arquitectura modernos, tal como foram estabelecidos pelos Congrès 
Internationaux d’Architecture Moderne (CIAM) nos anos 1920/30 e fixados
na chamada «Carta de Atenas» (1933) por Le Corbusier.
Em
conjunto,
 a obra e o percurso de Niemeyer, o plano e a construção de Brasília e 
os princípios do urbanismo e arquitectura
modernos, podem de certo modo ser vistos como diferentes níveis de 
análise sobre o complexo papel social e político da teoria e
prática arquitectónica moderna na história do século XX: as suas 
contradições e aporias, convergências
e divergências, apologias e críticas. Se por um lado o movimento moderno
 tentou apresentar-se a maioria das vezes como um projecto
exclusivamente técnico, por outro lado, sempre procurou fundamentar-se 
na ideia de uma transformação social total através
da simples construção de novas formas urbanas e arquitectónicas, onde o 
exercício de arquitectura aparece como um
exercício de «engenharia social». Ao mesmo tempo que se apresenta como 
um projecto apolítico e um «estilo
internacional», vê-se progressivamente a participar na consolidação e 
auto-representação de diversos
Estados-nação através de projectos-símbolo de modernização social. Se 
começa por ser uma
síntese progressista entre as vanguardas artísticas e os avanços 
técnico-industriais da Europa Ocidental entreguerras,
será apenas a partir da destruição da Segunda Guerra Mundial que terá 
oportunidade de execução
prática e será nas fases de modernização atrasada dos países de passado 
colonial das décadas de 1950 e 1960
que realizará os projectos mais ambiciosos (Brasília, Chandigarh, 
Islamabad, etc).
No
 urbanismo e na arquitectura modernistas, e naturalmente
também em Niemeyer e Brasília, cruzam-se assim de forma ambígua diversos
 temas do pensamento social, político e cultural
moderno (utopia e ideologia, capitalismo e socialismo, revolução e 
reformismo, poder e dinheiro, política e arte, etc.),
cruzamentos que observados retrospectivamente revelam problemáticas 
fundamentais, porventura ainda hoje longe de terem sido verdadeiramente
ultrapassadas.

 
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