Os recentes posts da Rosa e do Duarte convocam o tema do grafitti e dos tags no espaço público.
Apesar de - como em tantas outras coisas - "cada caso ser um caso", em relação aos tags ("assinaturas") tenho bastante dificuldade em ter alguma simpatia, quer pelo conteúdo, quer pelo significado.
A apropriação do espaço público para ostentar com orgulho um nome próprio ou de uma crew, dizendo que se esteve ali, que aquela é a sua zona, etc. é mil vezes mais desinteressante do que escrever nas paredes de Benfica "o ar condicionado mata as pessoas".
Por outro lado, a cidade de Lisboa tem grandes murais de grafiti, fantásticas intervenções de stencil, obras de grande valor e energia artística, criativa, expressiva, etc.
Mas curiosamente, enquanto a estudante de erasmus alemã que vive em Lisboa há 1 semana já fez uma visita guiada pelos grafitis do Bairro Alto (organizada por uma cidadã estrangeira a viver em Lisboa), o senso comum, até daqueles que pensam a cidade e fazem a política da cidade, costuma catalogar o grafiti como parte de um problema urbano mais abrangente que é a "sujidade" ou a "poluição urbana".
Creio, no entanto, que esta contradição faz parte da vitalidade do próprio grafiti. A transgressão e o carácter clandestino e desafiador são parte integrante do movimento e é por isso que é um pouco patético o paternalismo dos programas autárquicos (normalmente dos partidos de esquerda), que defendem "como forma de resolver o problema" a instalação de painéis para os grafiteiros poderem pintar as suas coisas em espaços pré-determinados pela câmara (aliás, como fez este executivo na Calçada da Glória).
Exemplo de "grafiti legal", produzido com o apoio da CML. Aqui, para além da escala, claro, é o facto de ter sido feito na fachada de um prédio devoluto há vários anos, em pleno centro da cidade, que lhe dá a força que os insossos murais da Calçada da Glória não têm.
Evitando posições absolutas do tipo todo o grafiti é lixo/arte e deve ser des/respeitado, diria que, essencialmente, o grafiti, como todos os movimentos culturais e artísticos, deve ter o mínimo de constrangimentos impostos pelo Estado. Assim, a recente notícia de que a Câmara Municipal se prepara para "abrir guerra aos grafitis" é preocupante.
Espero que os responsáveis camarários tenham a sensibilidade e o bom senso de saberem onde intervir.
O muro do Instituto Geográfico Português, por exemplo, onde a Rosa tirou aquela foto, é um impressionante trabalho colectivo, que levou muitos anos a consolidar, apesar de estar ainda em constante mutação.
Só as formas de planeamento informal de como se organiza e desenvolve aquele trabalho, mural a mural, grafiti a grafiti, dava um tratado... É um autêntico exilibris (underground) da cidade!
Será que o muro do IGP (para dar um exemplo mais dramático, mas há outros...) está ameaçado por um qualquer dirigente da Adminstração Pública concentrado em "limpar" a maior área possível, gastando o mínimo de dinheiro do orçamento camarário?
Tenho dúvidas se os paineis colocados na Calçada da Glória são para os "graffiteiros" poderem graffitar quando quiserem, ou se é por convite/concurso ou algo do género. Tal como se passa com as dezenas de vidrões na cidade.
ResponderEliminarQuais são então os espaços que sobram para se graffitar quando apetecer ou quando o contexto sugerir uma intervenção (política, por exemplo)?
Os edifícios devolutos?