Fazem falta tantos mais investimentos em mobilidade ciclável na cidade e isso é tão importante para termos uma cidade mais humanizada, despoluída, com mais gente, em que apeteça viver, que me custa atacar um projecto camarário nessa área... mas num contexto de constrangimentos financeiros, isto, mais que um tiro ao lado, roça a "Santanada".
Conheço bem o discurso das bicicletas eléctricas. É complementar ao das colinas e ao da falta de duches nos locais de destino...
Caricaturando um pouco, diria que a ideia vem sobretudo daquele pessoal que vive a contradição entre um discurso e uma percepção de que a cidade não aguenta com mais carros, e um sentimento pessoal de que sem carro não se consegue pura e simplesmente ter uma vida normal.
Imagino Nunes da Silva assim. A pensar para os seus botões «Se eu fosse Vereador em Amesterdão ou em Paris, andaria de bicicleta para todo o lado... As pessoas ver-me-iam a passar de bicicleta com o meu cachimbo e diriam "Lá vai o Professor de bicicleta"... Agora cá em Lisboa é impossível... Só se fosse com uma bicicleta eléctrica!».
O resultado só pode ser mau.
Para além do dinheiro mal gasto - os custos associados a este tipo de
bicicletas e respectiva manutenção superam em larga escala o custo e
manutenção de bicicletas convencionais - num serviço sem utilidade pública e que vai competir com serviços semelhantes, prestados aos turistas, por pequenas empresas e empreendedores privados da cidade; o problema mais grave, do meu ponto de vista, na linha em que já apontou o Miguel, é que desacredita as enormes virtuosidades do projecto inicial, retirando margem de manobra política para a sua implementação num futuro que se quer mais próximo possível.
É preciso que isto seja dito claramente: Na verdade, o sistema que vai ser agora implementado, não é um verdadeiro sistema de bicicletas de uso partilhado. É um pequeno negócio de aluguer de bicicletas eclécticas a turistas, concebido, ainda para mais, por alguém que tem preconceitos em relação à bicicleta como modo de deslocação dentro da cidade.
É também lamentável que se envolva a EMEL neste projecto. Coloquem ao menos a Associação de Turismo de Lisboa a tratar disto... Terá a EMEL quadros a mais sem missões para cumprir? Terá a EMEL excesso de fundos e nenhum investimento a fazer na sua área de acção?
É que são caprichos deste género que levam às vezes empresas públicas (como a EMEL), perfeitamente saudáveis e funcionais, a desarticularem-se e a terem resultados negativos. Depois levantam-se as habituais vozes pela concessão e privatização a privados... Mas isso é outro tema, para outro post...
Para não falar que 110 bicicletas (expandidas até 150, eh lá!) não faz disso uma Rede.
ResponderEliminarEstou a imaginar as 5 bicicletas por posto a desaparecerem logo (principalmente as das zonas mais baixas), deixando pendurado quem quiser começar a usar a bicicleta, optando por outro modo e desistindo logo deste.
Aí vem o fracasso...
Tal como diz, como o público alvo é o turista, isto vai tirar negócio às dezenas de lojas que já alugam bicicletas (incluindo não eléctricas, veja lá!). Se fosse uma rede a sério, com bicicletas convencionais, limitadas a quem tem passe social ou resida em Lisboa, estaria-se a falar de uma coisa completamente diferente, que continuava a deixar o negócio turístico para esses establecimentos.