A censura e o controlo exercido pelo Estado Novo não era só político, era também moral (a moral chauvinista da altura, entenda-se). Os bairros sociais de Lisboa dos anos 40, 50 e 60 (os chamados "bairros de casas desmontáveis", como a Quinta da Calçada, a Boavista, as Furnas e o Caramão da Ajuda) eram um dos terrenos onde esse controlo moral mais se exercia. Todo um complexo dispositivo - constituído principalmente por fiscais de bairro, assistentes sociais e agentes da Polícia Municipal- era encarregue do escrutínio diário do comportamento moral dos pobres que aí residiam, desencadeando-se de imediato as competentes sancões aos prevaricadores. Eis uma deliciosa transcrição de uma informação produzida em 1959 por uma assistente social da chamada "Comissão de Acção Social dos Bairros Municipais": "X tem tido um comportamento moral bastante irregular. Por desavenças e incompatibilidade com os filhos mais velhos do marido abandonou-o e veio novamente residir com a mãe. Pareceu-nos arrependida e resolvida a levar, doravante, um procedimento recto. Desde Janeiro, até ao presente, nada consta em seu desabono."
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