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30 maio 2013

Lisboa de cima, Lisboa de baixo



Lisboa é uma cidade cheia de fracturas: linhas imaginárias que separam os espaços civilizados dos espaços selvagens. Os bairros sociais são uma dessas zonas interditas, "locais onde a cidade se interrompe" como Luís Fernandes os caracteriza no seu livro "O sítio das drogas". O que é curioso é que mesmo dentro das zonas selvagens, existem fracturas internas, micro-territórios com estatutos sociais diferenciados. É o que sucedia com o Casal Ventoso, claramente dividido entre "o de cima" e "o de baixo". O Casal de Ventoso de cima, com as suas moradias com melhores condições e a sua proximidade com Campo de Ourique, tinha o estatuto social mais elevado. O Casal Ventoso de baixo, com as suas barracas pobres e a maior distância ao ponto de referência de status "Campo de Ourique", situava-se assim na base da pirâmide social. A divisão era tão clara que era raríssimo haver casamentos mistos entre a gente de cima e a gente de bairro. Escusado será dizer que as populações mais pobres e menos qualificadas que residiam no Casal Ventoso de baixo eram mais permeáveis ao narcotráfico.

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